A indústria de energia solar do Brasil tem vivido uma retomada após uma forte retração dos negócios na esteira da pandemia, mas a demanda aquecida vem enquanto fabricantes de equipamentos principalmente na Ásia ainda sofrem limitações, o que tem gerado alguma escassez no mercado, disseram especialistas à Reuters.

As importações de módulos fotovoltaicos pelo Brasil somaram em setembro cerca de 533 megawatts, praticamente o dobro de agosto (266 megawatts) e o maior volume desde março, antes do início de quarentenas decretadas por governos estaduais e municipais para tentar conter a disseminação local da Covid-19, segundo dados da JCS Consultoria.

As compras no exterior, fechadas principalmente junto à China, haviam registrado 574 megawatts em março, mas caíram para 358 megawatts em abril e tocaram mínima de 142 megawatts em junho, ainda de acordo com a JCS, que registra os equipamentos liberados pela alfândega.

“O que talvez ainda penalize o crescimento de outubro, novembro e dezembro é a disponibilidade de produtos da China. A cadeia de suprimentos está bastante comprometida nesse final de ano, muitos fornecedores têm reportado atrasos, falta de produto, pedidos não honrados”, disse o chefe da consultoria, Wladimir Janousek.

Esse cenário está associado a problemas que incluem falta de vidro na indústria de placas solares global, sediada principalmente na China e países asiáticos, o que acaba por resultar tanto em escassez de produtos quanto em preços maiores, disse o chefe de Estratégia da construtora de projetos de energia renovável TC Technologies, Hugo Albuquerque.

“Quando falamos em mercado consumidor, a demanda já retomou, mundialmente falando. Só que a indústria na China tem aversão a estoque. Então se a demanda voltou agora eles não têm matéria-prima disponível para todo mercado mundial. Há indisponibilidade de suprir essa demanda que ficou reprimida por meses, e isso é global”, explicou ele.

A situação ainda tem pressionado preços de matérias-primas e dos equipamentos finalizados –o custo do vidro utilizado na indústria solar dobrou, acrescentou Albuquerque.

“De fato, está faltando módulo no Brasil hoje, já está faltando. A China só deve regularizar o fornecimento de material a partir dos embarques de janeiro. O mercado volta à sua normalidade a partir do fim de fevereiro, começo de março”, projetou.

Essa escassez pode ser vista nos dados de importações de equipamentos solares, que mostram um descompasso neste ano entre as entradas no país de placas fotovoltaicas e inversores, disse o diretor da consultoria Greener, Marcio Takata.

“O volume de entrada de módulos está um pouco abaixo do que deveria ser em função do número de inversores. Em geral, entram de 15% a 20% mais módulos do que inversores, e percebemos que tem havido uma certa igualdade nos números. Houve historicamente um embarque menor do que deveria ser em módulos”, apontou.

As dificuldades de fornecimento têm impactado tanto investidores que constroem grandes usinas solares quanto pessoas e empresas que apostam em instalações conhecidas como geração distribuída, que envolvem placas fotovoltaicas em telhados ou terrenos, disse o presidente da empresa de renováveis Pacto Energia, Rodrigo Pedroso.

“Isso realmente está acontecendo e a sinalização que a gente tem do mercado é de que no primeiro trimestre de 2021 essa situação vai estar normalizada”, disse ele, ao destacar que a Pacto tem estoques para até o fim do ano porque vinha apostando em uma retomada da economia.

“Não só pedidos anteriores, programados para serem entregues agora, como os novos pedidos também estão sofrendo um impacto bem considerável, atraso. E aí é lógico, pela lei de oferta e demanda acaba impactando também o preço.”

Entre as principais fornecedoras de painéis solares do Brasil estão BYD, Canadian Solar, Risen, Trina, Jinko e JA Solar, entre outras.

Antes da pandemia, a indústria solar no maior país da América Latina previa importações recorde de painéis em meio a uma expansão acelerada, mas agora os volumes devem ficar próximos dos vistos em 2019 ou talvez ligeiramente superiores, disse Janousek, da JCS.

Outro fator que impactou negativamente desempenho da indústria de energia solar no Brasil ao longo de 2020 foi o câmbio, com uma forte desvalorização do real frente ao dólar e diversos momentos de volatilidade na moeda.

“Se não tivéssemos essa questão do dólar, a retomada (do setor solar) poderia ser ainda mais forte”, disse Takata, da Greener.

A moeda norte-americana chegou tocar máxima de cerca de 5,90 reais em maio, antes de recuar para cerca de 5,38 reais nesta semana após as eleições norte-americanas, em que o democrata Joe Biden sagrou-se vencedor, embora o presidente Donald Trump venha contestando os resultados.

Além do movimento no câmbio, a vitória de Joe Biden pode ser vista como positiva para o setor de energia solar devido à agenda ambiental do candidato, defensor de fontes renováveis, acrescentou Pedroso, da Pacto.

“O setor de energias renováveis como um todo tem agora uma perspectiva bem melhor do que era antes. Ele (Biden) tem uma agenda ambiental muito diferente do Trump.”

Fonte: Moneytimes.com.br

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